Tarsila do Amaral

Ocupação
Pintora brasileira
Data do Nascimento
01/09/1886
Data da Morte
17/01/1973 (aos 86 anos)
Mergulhe na vida e na obra de Tarsila do Amaral (1886-1973), uma força motriz na renovação da arte brasileira do século XX. Com pinceladas ousadas e uma visão profundamente ligada à brasilidade, Tarsila não apenas pintou quadros; ela capturou a essência da nossa identidade cultural, consagrando-se como uma das maiores artistas do país, eternizada por sua icônica tela “Abaporu” (1928).
Nascida em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, interior de São Paulo, Tarsila cresceu no seio de uma família tradicional e abastada. Neta de um influente fazendeiro apelidado de “milionário”, Tarsila desfrutou de uma infância e adolescência privilegiadas, permeadas pela riqueza da cultura e da natureza do interior paulista.
Sua jornada artística teve início nos bancos escolares, com estudos em São Paulo e no Colégio Sion. Aos 16 anos, durante uma temporada em Barcelona, na Espanha, pintou sua primeira tela, “Sagrado Coração de Jesus”, prenunciando o talento que floresceria.
Ao retornar ao Brasil em 1906, Tarsila trilhou brevemente o caminho do casamento, unindo-se a André Teixeira Pinto, com quem teve sua única filha, Dulce Pinto. No entanto, sua verdadeira paixão a aguardava nos ateliês de arte. Em 1916, iniciou seus estudos com o escultor sueco William Zadig, explorando a modelagem em barro.
Em 1920, buscando novos horizontes artísticos, Tarsila partiu para Paris, o efervescente centro da vanguarda modernista. Lá, aprimorou suas habilidades na renomada Academia Julian e sob a orientação de Émile Renard. Seu talento logo foi reconhecido, e em 1922, uma de suas telas foi admitida no prestigiado Salão Oficial dos Artistas Franceses.
A Conexão Modernista e a Busca pela Brasilidade
O ano de 1922 marcou o retorno de Tarsila ao Brasil e o início de sua profunda imersão no movimento modernista. Em 1923, de volta à Europa, estabeleceu laços estreitos com intelectuais, pintores, músicos e poetas modernistas, entre eles o escritor Oswald de Andrade.
Nessa época crucial, Tarsila absorveu as influências do cubismo ao estudar com os mestres Albert Gleizes e Fernand Léger. Sua amizade com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, que visitou o Brasil em 1924, também enriqueceu sua visão artística.
Em 1925, enquanto vivia em Paris, Tarsila ilustrou o revolucionário volume de poesias “Pau-Brasil” de Oswald de Andrade, selando uma parceria que marcaria a história da arte brasileira. Em 1926, uniram seus destinos em matrimônio, formando o casal mais influente para as artes do Brasil em sua época, carinhosamente apelidados de “Tarsiwald” pelo amigo e também modernista Mário de Andrade.
Embora não tenha participado diretamente da histórica “Semana de 22”, Tarsila integrou-se fervorosamente ao círculo dos intelectuais modernistas, formando com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia o icônico “Grupo dos Cinco”, pilares da renovação artística no país. Em 1929, realizou sua primeira exposição individual no Brasil, no elegante Palace Hotel, em São Paulo, apresentando ao público sua visão singular do modernismo brasileiro.
Após a separação de Oswald de Andrade em 1930, Tarsila viveu um período de introspecção, produzindo uma única tela naquele ano, a melancólica “Composição (Figura Só)”. No entanto, sua genialidade logo floresceria novamente, marcando novas fases em sua rica trajetória artística.
As Três Fases da Obra de Tarsila: Um Panorama da Alma Brasileira
Tarsila do Amaral, uma das figuras centrais da primeira fase do Modernismo, traduziu em sua obra as aspirações vanguardistas do grupo, desvendando a essência da identidade brasileira em diferentes momentos. Sua produção artística é dividida em três fases distintas: “Pau-Brasil”, “Antropofágica” e “Social”.
Fase Pau-Brasil (1924-1928): A Redescoberta Colorida do Brasil
Iniciada em 1924, impulsionada pelo “Manifesto Pau Brasil” de Oswald de Andrade, essa fase marca o rompimento definitivo de Tarsila com o conservadorismo artístico. Inspirada por uma viagem de “redescoberta do Brasil” com seus amigos modernistas, especialmente em Minas Gerais, sua paleta se enche de cores vibrantes e formas que celebram a exuberância tropical, a flora e a fauna nativas, as ferrovias e as máquinas, símbolos da modernidade urbana que também integravam a paisagem brasileira.
Fase Antropofágica (1928-1933): A Devoração Criativa da Cultura Estrangeira
A segunda fase, “Antropofágica”, emerge do movimento mais radical do modernismo brasileiro: a “Antropofagia”. Inspirada no emblemático quadro “Abaporu” (1928), um presente de Tarsila para Oswald, essa fase propunha uma “devoração” crítica da cultura estrangeira, absorvendo suas inovações artísticas sem perder a própria identidade cultural. A figura primitiva e monumental do “Abaporu”, que segundo a artista nasceu de um sonho, tornou-se o símbolo desse movimento que buscava um primitivismo crítico, uma releitura da nossa identidade através da lente da modernidade.
Fase Social (1933-1973): O Olhar Atento às Questões do Tempo
A terceira e última fase, “Social”, inicia-se em 1933 com a impactante obra “Operários”. Nesse período, a arte de Tarsila volta-se para os temas sociais da época, retratando a realidade e a luta dos trabalhadores, evidenciando uma preocupação com as questões humanas e as transformações sociais do Brasil.
A Expressão em Painéis e o Legado Duradouro
Ao longo de sua prolífica carreira, Tarsila também deixou sua marca em dois importantes painéis: “Procissão do Santíssimo” (1954), criado para as celebrações do IV Centenário da cidade de São Paulo, e “Batizado de Macunaíma” (1956), encomendado pela Editora Martins, demonstrando sua versatilidade e capacidade de dialogar com diferentes suportes e temas.
Nos últimos anos de sua vida, entre 1934 e 1951, Tarsila compartilhou sua vida com o escritor Luís Martins. De 1936 a 1952, atuou como colunista nos Diários Associados, ilustrando retratos de grandes personalidades, revelando mais uma faceta de seu talento. Participou ativamente do cenário artístico brasileiro, marcando presença na I Bienal de São Paulo em 1951, com uma sala especial na VII Bienal em 1963 e uma participação especial na XXXII Bienal de Veneza em 1964.
A perda de sua única filha, Dulce Amaral Pinto, em 1966, em decorrência de complicações da diabetes, marcou profundamente seus últimos anos. Tarsila do Amaral, a visionária que pintou a alma brasileira em cores modernistas, faleceu em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973, deixando um legado artístico inestimável que continua a inspirar e encantar gerações, reafirmando sua posição como um dos pilares da arte moderna no Brasil.
Salve, Tarsila do Amaral!