Sérgio Henrique Ferreira

Ocupação
Médico , professor e cientista
Data do Nascimento
04/10/1934
Data da Morte
17/-7/2016 (aos 81 anos)
Você sabia que um cientista brasileiro foi fundamental para o desenvolvimento de um dos remédios mais usados para controlar a pressão alta no mundo? Conheça Sérgio Henrique Ferreira (1934-2016), um médico e farmacologista visionário de Franca, São Paulo, cujo trabalho notável no veneno de uma cobra abriu caminho para uma revolução na medicina.
Dr. Sérgio Ferreira não foi apenas um pesquisador; ele foi um líder, um inovador e um nome que todo brasileiro deveria conhecer. Sua história é um exemplo de dedicação à ciência e ao bem-estar humano.
Da Jararaca ao Captopril: Uma Descoberta Que Salvou Vidas
Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, Sérgio Ferreira logo se juntou ao Departamento de Farmacologia, onde sua jornada na pesquisa começou sob a tutela do Professor Maurício Rocha e Silva, o próprio descobridor da bradicinina.
Foi nesse ambiente de efervescência científica que Ferreira fez sua descoberta mais espetacular: ele isolou uma família de substâncias presentes no veneno da nossa jararaca-da-mata (Bothrops jararaca)! Esses peptídeos eram capazes de potencializar incrivelmente os efeitos da bradicinina, uma substância que atua na pressão sanguínea. Ele os chamou de Fator Potencializador da Bradicinina (BPF).
A grande sacada veio em 1968, com a colaboração do Dr. Lewis Joel Greene, nos EUA. Eles notaram que o BPF não só potencializava a bradicinina, mas também abria o caminho para inibir a conversão da angiotensina I, um processo chave na regulação da pressão arterial. Essa descoberta foi a faísca que levou cientistas da farmacêutica Squibb a desenvolverem o Captopril, um medicamento que revolucionou o tratamento da hipertensão arterial e que até hoje é fundamental para milhões de pessoas em todo o mundo.
Por esse trabalho inovador com o veneno da jararaca, Sérgio Ferreira recebeu o prestigiado Prêmio CIBA de Pesquisa em Hipertensão de 1983, ao lado dos cientistas da Squibb. Um reconhecimento mais do que merecido!
Além da Hipertensão: Aliviando a Dor e a Inflamação
Mas as contribuições de Sérgio Ferreira não pararam por aí! No início dos anos 1970, ele trabalhou em Londres com o futuro Prêmio Nobel de Medicina, John R. Vane. Lá, ele foi parte crucial na descoberta de como drogas como a aspirina (os chamados anti-inflamatórios não esteroidais, ou AINEs) agem, inibindo a síntese de prostaglandinas e aliviando a dor.
Sua pesquisa se aprofundou na dor e inflamação, mostrando que analgésicos como o metamizol (a conhecida dipirona) atuam de uma forma diferente, neutralizando a sensibilização dos receptores de dor. Ele também desvendou o papel da bradicinina e de outras citocinas (substâncias inflamatórias do corpo) no desenvolvimento da dor, chegando a descrever um antagonista da interleucina-1 (IL-1) que hoje está sendo estudado para uma nova classe de analgésicos.
Um Legado de Liderança e Reconhecimento Mundial
Sérgio Henrique Ferreira nos deixou em 17 de julho de 2016, aos 81 anos, mas seu legado é imenso. Suas contribuições foram amplamente reconhecidas, tanto no Brasil quanto internacionalmente.
Ele foi eleito membro da Academia Brasileira de Ciências e presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), recebendo o título de presidente de honra.
Ao longo de sua carreira, recebeu inúmeros prêmios e medalhas, como o Prêmio TWAS (1990 e 1992), o Prêmio Mexicano de Ciência e Tecnologia (1999), o Prêmio Rheimboldt-Hauptmann da USP (2001) e o Prêmio Péter Murányi (2002).
Além de cientista brilhante, foi um verdadeiro líder. Ajudou a fundar e foi um dos editores-chefes da Revista Brasileira de Pesquisa Médica e Biológica, uma das mais influentes publicações científicas biomédicas internacionais. Foi membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA e do Conselho Brasileiro de Ciência e Tecnologia. E, para coroar sua trajetória, fundou a Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica.
A história de Sérgio Henrique Ferreira é um lembrete poderoso do impacto que a ciência brasileira tem no mundo. Ele transformou o veneno de uma cobra em esperança e qualidade de vida para milhões, deixando um legado de descobertas que continuam a beneficiar a humanidade. Que sua memória inspire novas gerações de cientistas a sonhar grande e a mudar o mundo!