Joaquim da Silva Rabelo - Frei Caneca
Ocupação:
Religioso, político, jornalista
Data de Nascimento:
20/08/1779
Data da Morte:
13/01/1825 (45 anos)
Joaquim da Silva Rabelo, mais conhecido como Frei Caneca (1779-1825), foi muito mais que um frade: ele foi um escritor, político e jornalista que dedicou a vida à causa da liberdade e do autonomismo no Nordeste brasileiro. Sua trajetória, marcada pela coragem e pela recusa ao autoritarismo central, culminou em seu martírio como um dos principais líderes da Confederação do Equador.
Sua famosa frase resume seu espírito revolucionário: “Quem bebe da minha ‘caneca’ tem sede de liberdade!”
Origem Humilde e Ascensão Intelectual
Nascido no Recife em uma família simples, filho de um tanoeiro português (daí o apelido “Caneca”), Joaquim demonstrou uma inteligência viva desde cedo. Tornou-se noviço carmelita em 1796 e, após ser ordenado padre, aprofundou seus estudos.
- Erudição Notável: Ele aproveitou as bibliotecas de Olinda e Recife para se tornar um intelectual respeitado, lecionando Retórica, Geometria e Filosofia em seu convento.
- Ideias Liberais: Influenciado pelos ideais da Revolução Francesa e da independência dos EUA, Caneca se uniu a grupos que conspiravam contra o domínio português, como a Loja Maçônica Academia do Paraíso.
O Confronto com o Centralismo e as Prisões
A vida política de Frei Caneca foi uma sequência de lutas e repressões:
1. Revolução Pernambucana (1817)
Participou ativamente do movimento que proclamou uma República em Pernambuco. Com a derrota da rebelião pelas tropas portuguesas, foi preso e levado para Salvador, onde passou quatro anos detido, dedicando-se, ironicamente, à redação de uma gramática da língua portuguesa.
2. O Retorno e a Luta contra o Autoritarismo (1821-1823)
Após ser libertado, Caneca retornou a Pernambuco e se envolveu na política local. Ele apoiou inicialmente a Junta Governativa de Gervásio Pires Ferreira, um período de busca por consenso, e defendeu que os portugueses domiciliados na terra fossem considerados pernambucanos.
Contudo, o dilema era grande: optar pelo liberalismo das Cortes de Lisboa (com um preço comercial) ou pela Independência do Rio de Janeiro, que prometia um regime autoritário sob D. Pedro I. Caneca logo se posicionou contra a “facção pernambucana da Corte” que apoiava o crescente autoritarismo imperial.
A Confederação do Equador e o Martírio (1824)
O ponto de ruptura veio com a dissolução da Assembleia Constituinte por D. Pedro I e a outorga da Constituição Imperial. Em resposta, os líderes pernambucanos, incluindo Frei Caneca, romperam com o poder central em 2 de julho de 1824, proclamando a Confederação do Equador — um movimento republicano e separatista que buscava a adesão de outras províncias do Norte e Nordeste.
- O Typhis Pernambucano: Como jornalista, Caneca usou seu jornal, o “Typhis Pernambucano”, como a principal trincheira de combate ideológico, assimilando a filosofia do Iluminismo para defender o autonomismo.
- Derrota e Captura: O movimento foi sufocado com violência. D. Pedro I impôs um bloqueio naval (liderado pelo Almirante Cochrane) e ordenou a invasão terrestre. Derrotado, Caneca fugiu para o interior, mas foi capturado em 29 de novembro.
A Execução Sumária
Julgado por uma comissão militar sob a acusação de sedição e rebelião, Caneca foi condenado à morte por enforcamento.
A execução, em 13 de janeiro de 1825, foi um ato de terror do Império:
- Ele foi “desautorado das ordens” (despojado do hábito religioso).
- Três carrascos se recusaram a enforcá-lo.
- A comissão militar, então, ordenou seu arcabuzamento (fuzilamento), atado a uma das hastes da forca, diante do Forte das Cinco Pontas, no Recife.
O sacrifício de Frei Caneca o eternizou como um dos grandes mártires da luta brasileira pela verdadeira liberdade e autonomia regional.