Dandara dos Palmares
Ocupação
Guerreira quilombola
Data de Nascimento
1654
Data da Morte
1694
A história do Brasil colonial é marcada pela luta incansável por liberdade. E, em meio a essa batalha, surge a figura lendária de Dandara dos Palmares, uma guerreira quilombola que se tornou um símbolo de resistência. Esposa de Zumbi, ela foi uma peça fundamental na organização e na defesa do Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro reduto de escravos fugitivos do Brasil.
Embora sua data e local de nascimento sejam um mistério, historiadores e a tradição oral sugerem que Dandara viveu em Palmares desde criança, crescendo e participando ativamente da construção social daquela comunidade, que durou quase um século no território da Serra da Barriga, na Capitania de Pernambuco (hoje Alagoas).
O Contexto da Escravidão e a Formação dos Quilombos
Na segunda metade do século XVI, a economia da colônia dependia exclusivamente do trabalho escravo. Milhares de africanos eram trazidos para trabalhar nos engenhos de açúcar, submetidos a uma vigilância severa e a castigos brutais.
Em resposta a essa opressão, muitos escravos fugiam, sozinhos ou em grupos, e formavam os quilombos – aldeias onde podiam viver em liberdade, restaurar seus costumes africanos e reconstruir suas vidas. O Quilombo dos Palmares, que chegou a ter cerca de 20 mil habitantes, foi o maior e mais emblemático desses redutos.
A Luta de Dandara e Zumbi
No século XVII, com a chegada de mais escravos fugitivos, a comunidade de Palmares cresceu e se organizou. Foi ali que Zumbi, o grande líder do quilombo, conheceu e se uniu a Dandara. Juntos, eles tiveram três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton.
Dandara, no entanto, era muito mais do que uma mãe. Ela era uma estrategista militar habilidosa. Além de participar das atividades domésticas, ela se tornou uma guerreira excepcional, dominando a capoeira e o manuseio de armas. Sua bravura foi essencial na defesa de Palmares contra as investidas dos holandeses e, posteriormente, dos portugueses.
A comunidade de Palmares se destacava por sua organização. A agricultura era a base da economia, com cultivo de mandioca, milho e cana-de-açúcar. Além disso, os palmarinos, como eram chamados, comercializavam artefatos com as vilas vizinhas. Mas mesmo em sua fortaleza natural, os ataques se tornaram cada vez mais frequentes.
A Recusa da Traição e a Luta Final
Em 1678, o governador de Pernambuco propôs um acordo de paz a Ganga-Zumba, líder anterior de Palmares. As condições incluíam a libertação de alguns escravos e o comércio com as vilas, mas exigiam a entrega de novos fugitivos.
Dandara e Zumbi não aceitaram essa traição. Para eles, a liberdade não era negociável. Eles se opuseram veementemente ao acordo e, com o apoio da maioria do povo de Palmares, assumiram a liderança do quilombo. Ganga-Zumba, que havia assinado o acordo, foi envenenado, e a luta pela total libertação recomeçou.
O confronto final veio em 1694. O bandeirante Domingos Jorge Velho liderou uma grande campanha militar contra Palmares. Após três anos de batalha, os guerreiros, ao se verem cercados, tomaram uma decisão desesperada e corajosa: preferiram a morte à escravidão.
A Morte de Dandara: Em fevereiro de 1694, Dandara foi capturada. Consciente de que o cativeiro era o destino que a esperava, ela tomou a decisão final de se jogar de um penhasco, unindo-se a outros guerreiros que também preferiram a morte à perda de sua liberdade.
Zumbi conseguiu fugir, mas foi traído e capturado em 20 de novembro de 1695. Seu corpo foi decapitado e sua cabeça exposta em praça pública, como um aviso. Hoje, o dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra, uma homenagem ao legado de Zumbi e à resistência de todo o povo negro.
Apesar da falta de registros, a história de Dandara, imortalizada na cultura popular e no cinema — como no filme “Quilombo” (1984), onde foi interpretada por Zezé Motta —, é um lembrete poderoso de que a luta por liberdade e justiça é um legado que devemos honrar. O Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, é um santuário que preserva essa memória, um tributo a todos que deram a vida por um ideal.