Se você tem a sensação de que o trânsito em São Paulo mudou, você não está enganado. Esqueça o caos tradicional das sextas-feiras: um levantamento recente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) revela que os dias mais críticos nas ruas da capital agora são as terças e quintas-feiras.
Essa mudança, de acordo com o especialista em mobilidade urbana Sérgio Avelleda, é um reflexo direto da pandemia. O modelo de trabalho híbrido, que privilegia o home office no início e no fim da semana, concentrou o fluxo de veículos nos dias intermediários. O resultado é que as segundas e sextas ficaram mais leves, enquanto as terças e quintas se transformaram no epicentro do congestionamento.
A Raiz do Problema: O Carro como Protagonista
O especialista critica a falta de políticas que priorizem o transporte público e as alternativas de mobilidade. Enquanto cidades como Paris e Bogotá usaram a pandemia para expandir suas ciclovias e corredores de ônibus, São Paulo insistiu na lógica de construir mais vias para automóveis.
Avelleda é enfático: “Quanto mais espaço abrimos para automóveis, mais eles ocupam. Nunca vimos o trânsito melhorar com túneis, pontes ou novas pistas”. Ele aponta para um desequilíbrio alarmante: na capital paulista, 90% das vias são destinadas ao automóvel, que transporta apenas 30% da população.
O Caminho para a Solução
Para resolver o problema, a equação precisa ser invertida. O especialista defende a ampliação dos corredores de ônibus, a criação de sistemas de BRT e a melhoria da integração metropolitana. O foco, segundo ele, deve ser reduzir o estímulo ao uso do carro e tornar o transporte público a opção mais atraente.
“A equação só vai mudar quando o transporte público for mais rápido, confiável e barato”, conclui Avelleda. A solução para o trânsito caótico não está em construir mais pistas, mas em investir em um sistema de mobilidade que sirva à maioria das pessoas, tornando a cidade mais fluida e eficiente para todos.
Fonte: Estadão
