Uma investigação milenar, um crime chocante e um julgamento que ecoa através dos séculos: a incrível história do Papiro de Cotton.
Um papiro esquecido por décadas, redescoberto e decifrado, revela um capítulo fascinante da história romana. Pesquisadores da Academia Austríaca de Ciências, da Universidade de Viena e da Universidade Hebraica de Jerusalém desvendaram um crime de 1.900 anos, documentado em um papiro encontrado na década de 50 e redescoberto em 2014.
Do engano à revelação
Inicialmente, acreditava-se que o papiro estivesse escrito em nabateu, a língua de um povo que habitava o Oriente Médio durante o Império Romano. No entanto, a professora Hannah Cotton Paltiel, ao organizar documentos da Israel Antiquities Authority, percebeu que o texto estava em grego.
“Eu me ofereci para organizar papiros documentais no laboratório de pergaminhos da Autoridade de Antiguidades de Israel e, quando o vi, marcado como ‘nabateu’, exclamei: ‘É grego para mim!'”, revelou Hannah Cotton Paltiel ao portal EurekAlert!
Uma trama digna de Hollywood
O papiro revela uma história digna de um roteiro de filme. Durante o reinado do Imperador Adriano (117 a 138 d.C.), dois judeus, Saulos e Gadalias, foram acusados de uma série de crimes. O julgamento, documentado em detalhes, revela as acusações:
- Gadalias: Violência, falsificação de documentos, extorsão e incitação à rebelião contra o Império.
- Saulos: Braço direito de Gadalias, responsável por vendas fraudulentas e sonegação de impostos.
Crimes e punições
No Império Romano, falsificação e fraude fiscal eram crimes graves, punidos com prisão, trabalhos forçados e até pena de morte. No entanto, o papiro não revela as sentenças dos acusados.
Um documento histórico
A audiência judicial ocorreu nas províncias romanas da Judeia e da Arábia, às vésperas da Revolta de Barcoquebas (132-135 d.C.), uma rebelião judaica contra o Império Romano.
O Papiro de Cotton, com 133 linhas, é o documento mais longo em texto grego encontrado no Deserto da Judeia. Ele foi rebatizado em homenagem à professora Hannah Cotton Paltiel, responsável pela descoberta do idioma correto.
“Este é o caso de tribunal romano mais bem documentado da Judeia, além do julgamento de Jesus”, afirmou Avner Ecker, um dos autores do estudo.
Um mergulho no passado
A descoberta do Papiro de Cotton nos transporta para o coração do Império Romano, revelando detalhes da vida cotidiana, da justiça e dos conflitos da época. Um documento histórico que nos permite conhecer um pouco mais sobre um passado distante e fascinante.
Fonte: Estadão