Henrique Dias
Ocupação:
Mestre de campo e cavaleiro da Ordem de Cristo.
Data de Nascimento:
Princípios do século XVII
Data da Morte:
7 ou 8 de junho de 1662
No alvorecer do Brasil colonial, onde a maioria dos negros eram escravizados, nasceu um homem que desafiaria as hierarquias e se tornaria um dos maiores heróis militares da nossa história: Henrique Dias (Capitania de Pernambuco, século XVII).
Filho de escravizados libertos, Dias não apenas participou da Insurreição Pernambucana, mas a liderou, transformando o conflito contra os holandeses em um marco de união e coragem que selou o destino do Nordeste brasileiro.
A Bravura que Não Conhecia Limites
No contexto da invasão holandesa, Henrique Dias não esperou ser chamado: ele se ofereceu como voluntário a Matias de Albuquerque e demonstrou uma capacidade de liderança imediata. Seu primeiro ato foi crucial: recrutou um grande efetivo de pessoas escravizadas nos engenhos para lutar pela Pátria que, ironicamente, os aprisionava.
Sua participação em combate é lendária. Ele se distinguiu pela bravura inquestionável em inúmeros combates, sendo ferido em Igarassu e, notoriamente, em Porto Calvo, em 1637. Foi ali que um tiro de arcabuz estraçalhou sua mão esquerda.
Sem abandonar o combate, mesmo com a mão dilacerada, Henrique Dias decidiu a vitória na ocasião. Seu sacrifício e determinação inspiraram o exército.
O "Governador dos Crioulos" e o Terço dos Henriques
Em homenagem à sua coragem e liderança, Henrique Dias recebeu o título de Mestre de Campo e a honraria de Cavaleiro da Ordem de Cristo do Rei Dom João IV. Tornou-se o comandante do Terço de Homens Pretos e Mulatos do Exército Patriota, um batalhão que, em sua homenagem, passou a ser chamado de “dos Henriques”.
Pela criação e comando desse Terço, ele é considerado o “pai” das milícias negras no Brasil.
Seu reconhecimento foi tal que, até a Independência, os batalhões compostos por soldados negros eram reverenciados como “Henrique Dias” ou “dos Henriques”.
O Desafio à Coroa: "Pernambuco é Pátria Dele e Minha Pátria"
A ousadia de Dias ultrapassou os campos de batalha. Quando Portugal, em trégua com a Holanda, desautorizou a Insurreição Pernambucana, ele não se calou. Sem autorização superior, escreveu aos holandeses uma carta que é um grito de liberdade e pertencimento:
“Saibam Vossas Mercês que Pernambuco é Pátria dele e minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui haveremos de perder as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela.”
Dias deixou claro que a luta não era mais uma ordem real, mas uma questão de vida ou morte pela terra. Sua determinação foi um fator decisivo para a vitória nas duas Batalhas dos Guararapes (1648 e 1649), o episódio final que garantiu a expulsão holandesa.
Legado e Reconhecimento Tardiamente Justo
Henrique Dias faleceu em 1662, mas seu legado permaneceu. Além de ter recebido títulos de fidalgo e terras em Recife (onde hoje é parte do bairro do Derby), seu nome e sua força continuam a inspirar:
- Patrono Militar: Em 1992, foi escolhido como patrono do 28.º Batalhão de Infantaria Leve (28.º BIL) em Campinas – SP.
- Herói da Pátria: Em 2012, a Lei nº 12.701 determinou que o nome de Henrique Dias fosse inscrito no Livro de Heróis da Pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Henrique Dias é a prova histórica de que a verdadeira liderança não reconhece cor ou condição social. Ele é o símbolo do brasileiro que, lutando por um lugar ao sol, moldou os limites e a identidade da nossa nação.
