Quando um filme como “Gladiador 2” chega aos cinemas, a primeira e inevitável reação é compará-lo à obra-prima que o precede. E a minha opinião é bem clara: sim, é um bom filme, um entretenimento de peso. Mas qualquer comparação com o original de 2000 seria injusta demais. E é injusta porque, como um bom fã de cinema, percebo que Ridley Scott não buscou uma continuação, mas sim uma reinvenção de sua própria arte.
Aos 86 anos, Scott parece estar com pressa, fazendo um filme na escala de “Gladiador” em apenas 51 dias. Essa urgência se reflete na tela, onde ele troca a mensagem estoica e a sobriedade de Maximus por uma abordagem mais moderna, debochada e sem freios. O realismo histórico do primeiro filme dá lugar ao que eu chamo de um cinema “pop” e exagerado.
Quando o Exagero Rouba a Cena
Confesso que as cenas de batalha me incomodaram. Enquanto as lutas do primeiro “Gladiador” eram viscerais e focadas na força humana, a sequência se joga de cabeça no fantástico. Tubarões no Coliseu? Macacos assassinos? Onde está o embate de honra e sobrevivência? Na minha opinião, as lutas entre homens eram mais impactantes. Essa opção por um espetáculo grandioso e, por vezes, artificial, mostra que o diretor quer extrapolar as situações do original, em vez de aprofundá-las. É um Ridley Scott que se liberta das amarras da história para criar seu próprio épico.
O Brilho de um Elenco Desigual

Apesar disso, o filme ganha muito com sua atuação principal. E, na minha visão, o grande destaque é Denzel Washington. Sua performance é grandiosa, roubando a cena em cada aparição. Ele interpreta Macrinus, um vilão que se move pela política com astúcia e vive apenas o agora, em contraste total com o lema de Maximus de “ecoar pela eternidade”. É como se o seu icônico personagem Alonzo, de “Dia de Treinamento”, vestisse uma túnica romana para jogar um jogo de poder sem escrúpulos.
Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de todos os outros. Enquanto Pedro Pascal se esforça para dar vida ao general Acacius, que vive o dilema de lutar por um império que despreza, sinto que Paul Mescal entrega um Lucius que, mesmo tendo os dilemas do protagonista anterior, não tem a mesma força. Ele é fraco no papel de herói, e a química com a atriz Connie Nielsen não convence, prejudicando o drama central da história.
Veredito Final: Um Bom Entretenimento, Mas Sem Replay
No final das contas, “Gladiador 2” é um bom entretenimento. Um filme que vale a pena assistir tranquilamente. Mas, para mim, uma ou duas vezes na vida já são o suficiente. Ao contrário de “Gladiador” de 2000, que já devo ter visto mais de dez vezes, a nova obra de Ridley Scott não carrega a mesma profundidade emocional nem a mesma honra.
É um filme pop, divertido, mas que não se preocupa em ser a nova lenda que os fãs esperavam. A batalha pela eternidade, Ridley Scott já venceu com o primeiro. Agora, ele se diverte com a liberdade que tem, entregando um filme para ser consumido e apreciado, mas não para ser lembrado como uma obra imortal.
Ficha Técnica

Gladiador 2 (2025)
Lúcio precisa entrar no Coliseu após os poderosos imperadores de Roma conquistarem sua terra natal. Cheio de raiva no coração e o futuro do império em jogo, ele olha para o passado para encontrar a força e a honra necessárias.
Onde assistir: NETFLIX
Diretor: Ridley Scott
Elenco: Paul Mescal, Pedro Pascal, Connie Nielsen
Nossa Opinião (Resumo):Um bom entretenimento que se liberta do peso do original. Não espere a mesma honra e sobriedade do primeiro, mas prepare-se para um espetáculo grandioso, com cenas de ação que desafiam a realidade. Denzel Washington domina a tela, mas, no fim, o filme é uma aventura que vale a pena assistir uma vez, sem a ambição de se tornar uma lenda como seu antecessor.