Amantes do sabor inconfundível do gorgonzola, preparem seus paladares (e seus vocabulários)! Em breve, aquele queijo de sabor marcante e textura cremosa, presença constante em nossas mesas de frios, passará por uma transformação em sua identidade aqui no Brasil. Essa mudança não é uma questão de sabor ou qualidade, mas sim uma consequência direta de um marco nas relações comerciais: o tratado de livre-comércio Mercosul–União Europeia, assinado em dezembro de 2024.
Este acordo histórico dedica um capítulo robusto à proteção de indicações geográficas (IGs) europeias, um mecanismo que visa preservar a autenticidade e a ligação de produtos com suas regiões de origem. E a regra é clara: somente os produtores localizados nas províncias do norte da Itália, reconhecidas pela prestigiosa Denominação de Origem Protegida (DOP), terão o direito exclusivo de estampar o nome “Gorgonzola” em seus rótulos.
Essa salvaguarda não se limita ao gorgonzola. Uma lista de 358 alimentos e bebidas europeias, incluindo ícones como o Parmesão, o saboroso Presunto de Parma e o elegante Champanhe, receberão o mesmo escudo jurídico. Em contrapartida, 222 IGs do Hemisfério Sul, como o tradicional salame de Tandil, na Argentina, também serão protegidas, criando um sistema recíproco de reconhecimento e valorização da origem.
A Nova Identidade: Desvendando os Próximos Rótulos
Para os laticínios brasileiros, a determinação é inequívoca: a palavra “gorgonzola” não poderá mais ser utilizada, nem mesmo acompanhada de termos como “tipo”, “estilo” ou “sabor”. Aqueles que já utilizavam a denominação antes das datas-limite estabelecidas no tratado terão a oportunidade de comprovar o uso prévio junto ao Ministério da Agricultura – uma lista preliminar de empresas habilitadas foi divulgada para consulta pública no primeiro trimestre de 2025.
Além das adaptações visuais em suas embalagens, as indústrias nacionais terão o desafio criativo de eleger novos nomes comerciais para seus queijos azuis. A expectativa é que surjam marcas inspiradas em charmosas localidades brasileiras ou em termos genéricos que remetam à natureza desse tipo de queijo, em um movimento estratégico semelhante ao que ocorreu com o espumante nacional após a proteção do termo “Champagne”.
Aguardando o Sinal Verde: Uma Mudança em Processo
É crucial ressaltar que essa transformação não ocorrerá da noite para o dia. O texto do acordo ainda aguarda a ratificação pelos parlamentos dos países que integram o Mercosul e a União Europeia, incluindo o Congresso brasileiro. Durante esse período de transição, entidades de defesa do consumidor alertam para a possível circulação de rótulos provisórios, exigindo atenção redobrada nas gôndolas.
Em sua essência, essa aparente “disputa linguística” reflete uma tendência global cada vez mais forte: a valorização e a preservação da intrínseca ligação histórica entre um produto, seu território de origem e o saber-fazer tradicional como um importante diferencial competitivo no mercado internacional. Aos apreciadores de queijos, resta a deliciosa tarefa de acostumar o paladar – e o vocabulário – às novas denominações que em breve enriquecerão as prateleiras, sem jamais alterar o sabor que tanto apreciamos.
Será que vão chamar de Queijo Azul?