A disputa pela liderança do lucrativo mercado premium transformou-se em uma guerra judicial e de marketing acirrada, marcada por acusações e investimentos que valem bilhões de reais.
Por trás das prateleiras e dos balcões de bar, desenrola-se uma verdadeira guerra fria (e nem tão fria assim) entre dois gigantes globais da cerveja: a holandesa Heineken e a brasileira Ambev. O campo de batalha é o segmento premium, que se popularizou rapidamente entre os consumidores brasileiros, elevando as tensões ao longo da última década.
Os Contendores e Seus Arsenais
De um lado, o Grupo Heineken aposta em marcas de peso como a própria Heineken, Amstel e Eisenbahn para morder fatias do mercado de luxo.
Do outro, a Ambev, resultado da fusão histórica entre Antarctica e Brahma, responde com um portfólio robusto que inclui Corona, Stella Artois, Spaten, Chopp da Brahma e Original.
A Disputa pelos Números
Recentemente, a balança que pendia a favor da Heineken viu seu equilíbrio ser desafiado. A Ambev agitou o mercado ao anunciar um crescimento de 15% no segmento premium, reivindicando a liderança com mais de 50% de market share.
A resposta da Heineken foi imediata e ácida: o presidente da multinacional insinuou que a rival teria “inflado” os resultados ao reduzir o tamanho das latinhas em certos lotes.
A Ambev não hesitou em rebater, afirmando que seu crescimento no portfólio premium é sólido e consistente, com alta acima de 15% nos últimos 18 trimestres consecutivos.
Em um movimento estratégico que mostra a seriedade da briga, a Heineken anunciou logo em seguida a inauguração de sua 14ª fábrica no Brasil, com um investimento maciço de R$ 2,5 bilhões na cidade de Passos, Minas Gerais. A mensagem é clara: o jogo está longe de terminar.
Do Bar ao Tribunal: A Guerra de Exclusividade
A rivalidade vai além da fábrica e das vendas, respingando diretamente na experiência do consumidor final. Ambas as companhias travam inúmeras batalhas por contratos de exclusividade em bares, festas e grandes eventos.
A mais recente polêmica estourou quando a Heineken acusou a Ambev de “marketing de emboscada” por promover suas marcas nos arredores do festival The Town, evento patrocinado pela rival. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) não acatou o pedido da Heineken.
Tentando mediar a contenda, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) interveio. Em 2023, a Ambev firmou um Termo de Compromisso de Cessação (TCC), limitando o percentual de exclusividade em estabelecimentos. No entanto, a Heineken demonstrou desconfiança, chegando a contratar consultorias para monitorar e apresentar ao Cade possíveis indícios de descumprimento do acordo pela Ambev.
A batalha pelo paladar e pela carteira do brasileiro é intensa e bilionária, e os consumidores são, simultaneamente, o alvo e o júri deste embate épico.