Uma operação de resgate chocante expôs a face sombria do abandono animal em Queens, Nova York, neste mês de maio. Uma equipe de socorristas confrontou um cenário de partir o coração ao encontrar quarenta cães da raça belga malinois confinados em um pequeno apartamento, submetidos a condições de vida deploráveis, sem acesso básico à comida, água e cuidados veterinários essenciais.
O que se descortinou diante dos olhos dos socorristas era um retrato de negligência extrema. Em meio a uma montanha de fezes, urina e restos de comida em decomposição, com ventilação precária e ausência total de higiene, os animais lutavam pela sobrevivência. A fome era visível em seus corpos desnutridos, e a triste verdade é que jamais haviam experimentado a liberdade de uma simples caminhada, algo crucial para o bem-estar físico e mental de raças ativas como o belga malinois e o pastor alemão, também encontrados no local.
A dimensão da crueldade era ainda mais sombria: cães adultos e filhotes viviam amontoados nos corredores e, em um sinal de profundo medo e confinamento, estavam escondidos dentro de armários e closets. “Dizem que esses cães viveram em confinamento total por toda a vida”, relatou a consternada Tara Mercado, do Centro de Cuidados com Animais de Nova York (ACC). “Encontramos Malinois adultos escondidos em armários e amontoados atrás de móveis.”
Graças a uma denúncia crucial, o Animal Care Centers of NYC (ACC) uniu forças com a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA) em uma corrida contra o tempo para salvar essas vidas inocentes. A ação conjunta permitiu a remoção imediata dos animais, a prestação dos primeiros socorros veterinários urgentes e o início dos delicados cuidados necessários para a recuperação física e, principalmente, emocional desses seres tão maltratados.
Um Ciclo de Negligência: Alertas Ignorados e a Tragédia Anunciada
O horror descoberto neste apartamento não era um evento isolado. Informações chocantes revelam que, dois anos antes, a mesma pessoa responsável por essa acumulação cruel havia buscado ajuda do abrigo Lend-a-Paw, em Queens, para seis cães. Na ocasião, o abrigo prontamente se dispôs a auxiliar, mas o que encontraram já era alarmante: “Ao receber esses cães, eles estavam emaciados, desnutridos e pouco socializados”, escreveu o resgate em sua página do Facebook, evidenciando um padrão de negligência persistente.
O alerta vermelho soou novamente no final de 2024, quando a mesma pessoa contatou o Lend-a-Paw, desta vez solicitando ajuda para um número ainda mais assustador: 25 cães. Diante dessa escalada dramática, o abrigo finalmente percebeu a gravidade da situação e acionou o ACC, a ASPCA e as unidades de combate à crueldade animal de Manhattan e Queens. A intervenção tardia, mas crucial, revelou a extensão da tragédia em maio, com o resgate de mais de 40 cães em “um dos casos de acumulação mais comoventes que já vimos”, nas palavras do abrigo.
A Longa Jornada para um Recomeço Digno
Agora, longe das sombras do confinamento e da crueldade, cada um dos cães resgatados recebe cuidados médicos intensivos, nutrição adequada e a segurança de um ambiente amoroso. No entanto, o trauma de uma vida inteira sem socialização deixou cicatrizes profundas. Os animais estão extremamente assustados, desconfiados e lutam para interagir com seres humanos. “Eles provavelmente nunca tocaram na grama, andaram na coleira ou conheceram um estranho”, explicou a Dra. Biana Tamimi, diretora de medicina de abrigo do ACC. “Cada novo som, cada interação humana é avassaladora.”
Entre os resgatados, Sammie, um jovem de apenas dois anos, personifica o terror vivido por seus companheiros. Seu olhar, carregado de medo, encontrou um raio de esperança ao ser acolhido pelo Zion’s Mission Animal Rescue. Lá, pela primeira vez em sua vida, ele começou a receber o carinho e a atenção que sempre lhe foram negados.
Um momento de pura emoção marcou o início da jornada de Sammie: ao reencontrar seus companheiros de resgate, seus olhos antes opacos se iluminaram, e pela primeira vez, ele demonstrou alegria e alívio, um vislumbre da felicidade que ainda pode experimentar.
Além do Zion’s Mission, outras organizações e abrigos de resgate dedicados, como Almost Home Rescue & Adoptions, ASPCA, Char-Wills German Shepherd Rescue, Every Last One, Greenfield Pets Animal Rescue, Korean K9 Rescue, Malinois & Dutch Shepherd Rescue, Posh Pets e Stacy Hope Rescue, abriram seus corações e lares para esses animais traumatizados.
Com infinita paciência, amor e profissionalismo, essas instituições iniciam agora uma nova e desafiadora etapa: a reabilitação física e emocional desses cães, oferecendo-lhes a chance de conhecer, pela primeira vez em suas vidas, o que significa viver com dignidade, segurança e, finalmente, amor. Que a história desses 40 malinois sirva de alerta para a urgência do combate à crueldade animal e da promoção da adoção responsável.
Fonte: AmoPet
